CRISTO REI E NOSSAS QUATRO FOMES

29-11-2010 15:13

 

Jesus Cristo é o rei das nações e seu reino é de justiça, verdade, liberdade, alegria, amor, e paz. Ele sacia nossas quatro fomes. Ele é rei ontem, hoje e sempre porque é o bem supremo, o caminho, a verdade, a vida.   

1.    Nossa primeira fome: de pão.

Num país continental, rico em safra de grãos, exportador de tantas riquezas, como o Brasil, tanta gente passa fome. Uns dizem que só passa fome quem é preguiçoso. Não podemos concordar com este pensamento. Diz Josué de Castro no famoso livro “Geografia da Fome” que a “fome é um problema político”. Eis a grande verdade. Acrescentaria, a “fome é um problema ético”. Para os cristãos a “fome é um problema de fé e vida”.

Deus fez chover o Maná no deserto. Jesus multiplica os pães e diz aos apóstolos, “daí-lhes vós mesmos de comer” (Mc. 6,37). Maria, Mãe de Jesus, reza: “Os famintos serão saciados” (Lc. 1,53). Percebemos que Deus não cuida só da nossa alma, mas também do nosso estômago. Em nome da fé precisamos colaborar com todas as entidades sociais solidárias, para erradicar a fome que é um pecado social.

2.    Nossa segunda fome: de afeto.

Em seu livro “Caricia Essencial” o psicólogo Roberto Shinyashiki afirma que toda pessoa merece ser: respeitada, valorizada, compreendida, amada. A ternura, o toque, o carinho, o colo, o elogio tem poder terapêutico. Fomos programados para sermos amados. Sem amor a gente se desequilibra, adoece, enlouquece e morre. A rejeição é um perigo existencial. Sem afeto a pessoa se torna doentia e perigosa. É proibido economizar afeto, elogio, carinho. Só quem é amado modifica e cresce. Um sorriso, um elogio, um olhar, um abraço, um aperto de mão podem fazer milagres. A amizade com Jesus sacia nossa fome de amor.

3.    Nossa terceira fome é: o bem.

É a chamada “fome ética”, ou seja, fome da verdade, da justiça, da liberdade, do bem. Estamos enfastiados de tanta corrupção, mentira e manipulação, que fazem do Brasil o “paraíso das mentiras” (H. Lepargneur). Jesus passou fazendo o bem. Vivemos num mundo rico em técnica e pobre em ética. Com velocidade supersônica galgamos as alturas da informática e com velocidade de tartaruga nos arrastamos pesadamente no crescimento humanístico, ético e espiritual. Somos gigantes em técnica, nanicos em ética.

Mas, como o “homem é um ser de esperança” (G. Marcel), também nós queremos construir a “civilização do amor, a política da solidariedade e a cultura da vida”. Esta é a revolução ética que almejamos.

4.    Nossa quarta fome: de Deus.

Até o socialista ateu como E. Bloch reconhece que o homem é um “ser de transcendência”. Desejos, dúvidas, inquietudes, indigências, perguntas, fazem do homem um “adorador natural à procura de Deus”.

Quando afirmamos que temos fome de Deus, queremos antes de tudo respeitar a dimensão religiosa da pessoa humana. Ter fome de Deus é proclamar que os horizontes da vida e da história são mais amplos que os da ciência e da técnica. Escrevia Pascal “o último passo da razão é reconhecer que existe uma infinitude de coisas que nos superam”. Portanto, o homem se torna ateu quando se acha melhor do que Deus, conclui Pascal.

Hoje, no lugar do Deus Vivo, adoramos os ídolos do ter, do poder e do prazer desordenado cujas catedrais são os Bancos, os Shoppings e os Motéis. Deus foi desalojado, exilado, despejado. Mas, eis a surpresa, o misticismo está de volta, o retorno da religião é indiscutível, e a fome de Deus continua nos atormentar. Sem Deus, resta-nos o ruído metálico da violência, o silêncio da desconfiança e o vazio da volúpia. O homem na verdade é um “mendigo de Deus”. A ciência faz o homem mais inteligente, mas não o melhora (Hegel) e ele continua sendo uma “Cloaca de incertezas” (Pascal), juiz de tudo e imbecil. O princípio da sabedoria é adorar a Deus, pois Ele carrega conosco o fardo da história.   

 

Dom Orlando Brandes

Arcebispo de Londrina


 

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