I PRIMEIRO SIMPÓSIO DA FAMÍLIA 3

06-06-2011 12:32

                              I PRIMEIRO SIMPÓSIO DA FAMÍLIA 3

 

 

                                                                               A FAMÍLIA NO CONTEXTO ATUAL
                                    (DOM JOÃO PETRINI, PRESIDENTE DA COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL VIDA E FAMÍLIA)

 

 



A beatificação de João Paulo II é um grande exemplo para as comunidades cristãs, pois ele enfrentou com coragem, em diversos ambientes, a controvérsia. As polêmicas da Igreja com o mundo é: que tipo de homem e de mulher, de família estamos construindo de hoje em diante? O modelo é a pessoa esperta que sabe tirar vantagem de tudo?! Ou o santo que nem sempre ganha todas, mas que se sacrifica pelo bem do outro?! A partir desses pontos daremos início ao debate.
Não basta só defender, proteger a família é preciso anunciar a verdade e fazê-la sujeito, não só objeto da evangelização.
O contexto atual ensina ao homem de hoje que ele tem o direito de escolher tudo, até sua sexualidade. Sartre, por exemplo, foi um filósofo que procurou negar a existência de Deus, afirmando que a existência de Deus e até a dos outros mesmo limitam e ameaçam nossa liberdade. "O inferno são os outros". Isso exalta um estilo de vida em que os outros entram apenas tangencialmente. Negou a paternidade ao afirmar que todos vínculos estão podres. A recusa dos vínculos é hoje uma mentalidade difusa. Diz Bauman, filósofo polonês, que a sociedade é líquida: tudo flutua, ficamos mareados, com tontura, nada fica firme.
O homem e a mulher recusam vínculos sólidos, trocando-os por outros de breve duração, sem compromisso, como se o “eu” existisse dissociado do “tu”. Ao contrário, João Paulo II vem nos recordar a comunhão trinitária o amor como dom a ser construído. Na Carta às Famílias (9) João Paulo II afirma: “Através da comunhão de pessoas, que se realiza no matrimônio, o homem e a mulher dão início à família. Com a família está ligada a genealogia de cada homem: a genealogia da pessoa. A paternidade e a maternidade humana estão radicadas na biologia e, ao mesmo tempo, superam-na.”. João Paulo II vai para o pólo oposto desta tendência do mundo atual. O "eu" só existe em relação.
Desde o início da vida, enquanto filho(a), o homem e a mulher são constitutivas da personalidade, diferentemente das relações eletivas que dependem do nosso simples querer. As relações com mãe e pai, por exemplo, são a base da nossa existência. Assim, também a relação entre marido e mulher forma a identidade de ambos. O início de cada ser humano guarda o mistério da alteridade: eu não me faço sozinho, me faço com o outro e para o outro. Minha existência neste mundo depende dos outros: eu não sou capaz de me auto-gerar.
João Paulo II indica o caminho do amor como o caminho para viver esta comunhão naquela a pessoa se aperfeiçoa em sua humanidade, em direção à plenitude que não poderia se encontrada fora disso. A Gaudium et Spes recorda que o amor se concretiza como dom sincero de si.
Na Familiaris Conosrtio (11), lemos: “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança: chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor. Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano.”
E no n. 14, a exortação diz: “Segundo o desígnio de Deus, o matrimônio é o fundamento da mais ampla comunidade da família, pois que o próprio instituto do matrimônio e o amor conjugal se ordenam à procriação e educação da prole, na qual encontram a sua coroação. Na sua realidade mais profunda, o amor é essencialmente dom e o amor conjugal, enquanto conduz os esposos ao «conhecimento» recíproco que os torna «uma só carne», não se esgota no interior do próprio casal, já que os habilita para a máxima doação possível, pela qual se tornam cooperadores com Deus no dom da vida a uma nova pessoa humana. Deste modo os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmo a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe.”
É como se fossemos colocados diante de alternativas a cada momento. Vale recuperar a palavra de Jesus. “Ouvistes o que foi dito... eu porém vos digo...” e ele tem a audácia de dizer algo diferente daquilo que todos diziam. Os tempos de hoje exigem isso de nós: a Globo diz, o Supremo Tribunal diz, todo mundo dizem...". Mas nós ousamos repetir o que Deus diz, o que o seu desígnio sonhou para a nossa felicidade e plena realização. De um lado o individualismo, de outro a doação, de um lado perseguir seu próprio interesse até sacrificando a vida de outros, ou então outra possibilidade, viver o amor que se doa até o sacrifício de si mesmo. Ou permitirmos que prevaleça uma mentalidade mercantilista ou compreendemos sempre mais o dom gratuito, assim como Cristo faz com conosco.
O que antes seria o caminho mais natural, que até os não-cristãos seguiam espontaneamente. Hoje distingue-se cada vez mais claramente quem é verdadeiramente cristã e quem segue por caminhos exóticos.
Chega de defesa! Chega de ficarmos acuados. Queremos sempre mais ser evangelizadores destemidos para que as famílias encontrem a verdadeira felicidade.

 


 

Marcelo Brilhante© 2011 Todos os direitos reservados